Aqui jaz.
O Prêmio Nobel considera o conjunto da obra, especialmente trabalhos em circulação há décadas. Por que chegou o momento de Alice Munro?
Durante anos, disseram que Munro não seria reconhecida por causa do mundo confinado de seus contos, um argumento absurdo. O que dizer do mundo de Jane Austen? Ou das cenas domésticas das pinturas de Vermeer? O obstáculo, na minha opinião, era o fato de que ela só escreve contos. É interessante que o prêmio saia agora, quando estamos vendo um pequeno renascimento do conto na literatura, em autores como Elizabeth Strout, que ganhou o Pulitzer por Olive Kitteridge. E não é coincidência. O espectro da atenção contemporânea foi muito reduzido com a mídia digital. Um longo romance exige uma imersão que a distração contemporânea pode não comportar. Mas isto não tira nada da importância extraordinária da obra de Munro.
Entre os autores vivos, Munro é comparada ao irlandês William Trevor.
Sim, mas a diferença aqui é que consigo identificar a voz de Trevor, que me parece mais circunscrita à sua linguagem lacônica, bastante irlandesa. Munro parece ter um estilo invisível, é algo mágico, você vai se deslocando frase por frase. Ela tem um tom confidencial e se dirige ao leitor de maneira primal, não existe a autoconsciência literária. Trevor é fabuloso mas prefiro seus romances aos contos. Mas veja,