APPROCHE DO BIOPODER
Vilmar Serighelli
A anátomo-política e a biopolítica marcam o momento em que a vida humana entra em jogo nas estratégias e nos cálculos de poder dos Estados, cujo objetivo principal já não consiste mais, como no poder de soberania, em “fazer morrer ou deixar viver”; e sim em “fazer viver e deixar morrer”, exercendo um poder que se investe sobre a vida humana, de alto a baixo e inversamente. A anátomo-política (ou disciplinas) age sobre o indivíduo naquilo que ele tem de mais íntimo, seu corpo, a fim de torná-lo o mais útil e dócil possível. A biopolítica toma, por sua vez, como objeto de sua intervenção a espécie humana, a própria vida dos indivíduos. E mais, estes dois processos tiveram uma importância central no processo de consolidação e do desenvolvimento do capitalismo moderno.
Esse poder disciplinar que se exerce na sutileza, com discrição, sem ser percebido, a singularidade é sem a violência explicita. Introjeta e não domina. Sua eficácia está na moldagem do corpo do indivíduo moderno, em um processo que Foucault chama de “fabricação de indivíduos-máquinas”1, com técnicas de assujeitamento do indivíduo.
O poder disciplinar se exercerá principalmente instituições européias, a partir do século XVIII, no alvorecer do capitalismo: as fábricas, as escolas, os hospitais, os quartéis, as prisões. É no interior destas instituições que se “moldará” o sujeito moderno - um processo de criação, de produção, de construção de um sujeito útil e dócil, através de uma “tecnologia disciplinar do corpo”, que “é centrada no corpo, o qual produz efeitos individualizantes, manipula o corpo como foco de forças que é preciso tornar úteis e dóceis ao mesmo tempo”2. A disciplina é uma técnica onde “a força do corpo é com o mínimo ônus reduzida como força ‘política’, e maximalizada como força útil”3.
A partir dos anos 1970, Foucault, realiza um estudo sobre a constituição do poder, à margem das clássicas definições dadas a