Causas e consequências do crime no Brasil Daniel Cerqueira E como se deu a análise histórica dos homicídios no Brasil desde 1981? Como eu disse, a ideia era investigar se a evolução dos homicídios no Brasil era um puzzle, ou podia ser explicada pelo conhecimento disponível na academia. Para fazer essa análise, acompanhamos a evolução de oito fatores causais, entre aqueles em que há maior grau de consenso na literatura internacional sobre o tema, sendo eles: os fatores socioeconômicos (desigualdade de renda e renda domiciliar per capita), os fatores demográficos (proporção de homens jovens na população), a taxa de encarceramento, a taxa de efetivo policial e a prevalência de armas de fogo, de drogas ilícitas e de bebidas alcoólicas. Nesse ponto, o maior obstáculo foi justamente o de produzir tais indicadores – absolutamente cruciais para a análise do crime – que não existiam no Brasil para o período, desde 1981. Em segundo lugar, tomamos emprestado dos vários estudos publicados no Brasil e em outros países as estimativas do efeito causal de cada um dos fatores listados sobre a taxa de homicídios. Em particular, utilizamos um indicador conhecido em economia como “elasticidade”, que mede o efeito percentual da variação de uma variável sobre outra. Por exemplo, estimamos que a elasticidade entre armas de fogo e taxa de homicídios era em torno de 2. Isso quer dizer que a cada 1% do aumento na prevalência de armas nas cidades a taxa de homicídios deveria variar +2%. Então, a partir da evolução dos fatores selecionados – que julgamos ser mais importantes para determinar a taxa de crime – e das elasticidades estimadas, publicadas em revistas especializadas, calculamos o efeito potencial de cada um dos fatores sobre a taxa de homicídios. ... E a que conclusão você chegou? A origem do problema é social, demográfica, falta de polícia... Logo no princípio descartamos a questão das bebidas alcoólicas. Verificamos que a sua prevalência era relativamente constante ao longo