Análise - A Falecida

Análise de uma sequência de filme nacional
A Falecida. 1965. Direção: Leon Hirszman

Uma mulher anda sozinha pelas ruas, durante uma chuva. Não sabemos quem ela é nem para onde vai. Ela bate em uma porta. Uma outra mulher, um tanto suspeita, atende. Uma cartomante, que revela à primeira mulher para tomar cuidado com uma loura. Ela paga a consulta e vai embora, sozinha, até sua casa, no subúrbio. Solidão e marasmo, as duas tônicas do filme A Falecida, de Leon Hirszman, que se mostram presentes desde a sequência inicial do filme. De início, Hirszman não entrega exatamente qual o problema de Zulmira, a falecida do título. Percebemos que ela está inquieta, infeliz. Ela então demonstra que seu casamento está ruim: sua refeição silenciosa com o marido logo torna-se discussão enquanto uma radionovela, ao fundo, expõe o amor de um casal. Depois, Zulmira mostra seu desprezo por sua vizinha, Gracinha. Mas não é exatamente nenhum desses problemas o grande conflito de Zulmira, nem mesmo sua simples soma. O conflito de Zulmira, no filme, é o conflito dos personagens do subúrbio, presos em uma vida difícil, procurando por uma saída. Para Toninho, marido de Zulmira, e para muitos outros homens, é o futebol. Para Zulmira, é a morte. A morte, no entanto, não tem peso negativo neste caso. Não é o fim, nem mesmo um fim. É um meio. A morte é a maneira que Zulmira encontra para, ao mesmo tempo, superar o subúrbio, através do luxuoso funeral que pretende conseguir, como também para superar a vida no subúrbio. Morrer é transcender. Não é à toa, há toda uma cena apenas para ilustrar esse desejo da protagonista: a cena do banho de chuva. Zulmira havia ligado para a casa funerária e finalmente decide que vai morrer, deixando tudo acertado para seu enterro. Ao buscar as roupas no varal, começa a chover, e ela se abriga dentro de casa. Ela observa a chuva cair, enquanto enxuga seu rosto. Zulmira parece se colocar na ponta dos pés, tentando alcançar a chuva. Da mesma maneira que a