Análise Num bairro moderno de Cesário Verde
Sandréa Santos Silva1
Murilo Cavalcante Alves2
O poema “Num bairro moderno”, do poeta Português José Joaquim Cesário Verde, foi produzido em 1877 e é considerado um dos seus melhores poemas, pois neste trabalho ele expressa com clareza o seu estilo. Poeta realista, Cesário Verde abandonou a poesia lírica amorosa, desprezou o convencional criou uma poetização do cotidiano, para além do “eu” poeta, centrada no objeto e não no sujeito e isenta de qualquer intenção revolucionária e social. Passa assim a ser reconhecido como precursor de Mário de Sá Carneiro e de Fernando Pessoa.
De acordo com o que aprendemos nos estudos em sala de aula, foi entre 1877 e 1880 que Cesário passou a descobrir a cidade e os seus mistérios, observando o cotidiano e permitindo que ele adentra-se na sua poesia, pois para ele a sua principal preocupação estava no que o rodeia, pelo fato de não conseguir viver como muitos, que vivem isolados das pessoas mesmo estando no meio delas. Porém depois de 1881 ao desencantar-se com a cidade, o amor da cidade torna-se amor ao campo, e é exatamente essa transmutação que podemos perceber nesta obra à medida que a analisamos.
Este poema tem uma composição de vinte estrofes, sendo estas quintilhas, com rimas cruzadas e interpoladas, e versos decassílabos. Na sua primeira estrofe podemos perceber que o autor descreve de forma fotográfica o espaço exterior de um bairro moderno, marcando a noção de tempo e espaço.
Dez horas da manhã; os transparentes
Matizam uma casa apalaçada;
Pelos jardins estancam-se os nascentes,
E fere a vista, com brancuras quentes,
A larga rua macadamizada
Minuciosamente o poeta vai contemplando cada detalhe, observando tudo o que o rodeia, percebendo não só a paisagem que o cerca, mais os pequenos detalhes, o exterior e também o interior de um bairro moderno e burguês, onde predomina o conforto e o bem estar, no qual o próprio eu poético vive. À medida que o mesmo vai