Incógnito
A poesia de Cesário Verde, prefiguradora de uma modernidade estética só inteiramente reconhecida após a sua morte, dificilmente cabe nas classificações da história literária. Se a representação pictórica dos ambientes e a descrição plástica da realidade o aproximam do Realismo e do Parnasianismo, se o interesse pelos fracos e humildes ecoa influências românticas e baudelairianas, não é menos verdade que a imaginação do poeta o conduz, muitas vezes, a uma recriação impressionista ou fantasista da realidade devedora da estética simbolista.
Contextualização
No período em que viveu Cesário Verde, Portugal estava em profunda transformação. A população duplicara e chegavam milhares de pessoas do campo às cidades, que agora se alargavam. A indústria era ainda diminuta, por isso os aspetos campesinos impunham-se nos arredores da cidade. Algumas modernizações tinham já sido implantadas em Lisboa: candeeiros a gás e caminho-de-ferro. Nos bairros mais velhos não havia higiene, abundando os parasitas. A tuberculose e a cólera reinavam. A água, recentemente canalizada, chegava a muito poucas casas. A diferença entre ricos e pobres era acentuada. Os operários tinham salários ridículos, o que os obrigava quase a passar fome. Os trabalhadores não tinham segurança. As tuberculoses e as pneumonias eram muitas e a taxa de mortalidade era elevada.
Na Europa aconteciam grandes descobertas científicas e era o tempo do Impressionismo na arte e do Romantismo e Realismo na literatura.
Poetização do real (objetividade/subjetividade) e quotidiano na poesia
No tempo de Cesário Verde, Lisboa era uma cidade de contrastes. Ele retratou-a realçando a arquitetura antiga e os bairros modernos da nova burguesia. É na captação objetiva do real que surge a outra face da realidade lisboeta: a dos trabalhadores que denunciam a sua origem campesina.
Ao deambular, o sujeito poético denuncia o lado oposto ao da grandeza, focando lugares pobres e nauseabundos,