Análise do conto Sem enfeite nenhum, de Adélia Prado.
Porque se faz necessário um estudo de literatura feminina? Não seria mais apropriada a perspectiva tão somente de uma literatura, sem distinção de gênero? Ocorre porém que a mulher tem um longo histórico de exclusão e opressão social.
A mulher foi ao longo da história relegada sempre a segundo plano. Deveria ser a que gerava a prole, a que era privada do saber, da participação política e econômica, a que deveria ser submissa ao marido. Mesmo após o movimento feminista, e muitos avanços na conquista de direitos iguais entre gêneros, a mulher ainda é alvo de preconceitos, exclusões e opressões. E mesmo a literatura de autoria feminina deve ser vista sob uma ótica de evolução rumo a conquista de uma verdadeira emancipação feminina.
Contraditoriamente, mesmo sendo sempre inspiração ou tema de obras literárias, a mulher nunca pode alcançar seu espaço na literatura, privada que era mesmo da própria escrita.
Ao longo da história da literatura, as mulheres que conseguiram encontrar seu espaço no mundo das letras, geralmente eram apenas reprodutoras da visão de mundo vigente, machista e patriarcal. Qualquer manifestação do novo, de uma perspectiva feminina, seria com certeza prontamente rechaçada.
É muito recente a busca de escritoras por uma literatura a partir da visão propriamente feminina. É algo que tem sido construído a cada dia.
Nos anos 1980, por exemplo, a literatura produzida por autoras como Nélida Piñon apresenta uma mulher em busca de sua identidade. A mulher que é ainda reprimida, mas que questiona, mesmo timidamente, sua condição, em busca de sua libertação. Analisamos, a seguir, um conto que se encontra nessa fase.
Em “Sem enfeite nenhum”, conto de Adélia Prado, de 1979, encontramos uma personagem oprimida pelo peso de conceitos religiosos e patriarcais. A narradora, em primeira pessoa, é do Carmo, filha adolescente da protagonista.
A protagonista é ao mesmo tempo reprodutora e alvo de