Análise de obras de arte a partir de três gêneros e uma técnica
Catarina Landim e Fábio San Juan
Escultura: Michelangelo e Rodin
Propomos a você um exercício: imaginemos que estamos vendo, lado a lado, as esculturas Pietá, de Michelangelo Buonarotti (1475-1564) e o Beijo, de Auguste Rodin (1840-1917). Deixemos-nos levar pela apreciação de cada uma delas. O que elas têm em comum? O que elas têm de diferente? Estamos diante de dois dos maiores escultores da História da Arte, artistas que mudaram a maneira da humanidade ver a escultura, cada um à sua maneira.
Olhemos primeiro a Pietá, realizada por Michelangelo quando tinha apenas 23 anos. É uma obra na qual podemos observar diversas características do período em que foi realizada, o Renascimento: equilíbrio, proporção, racionalidade. Resgatando a arte clássica da Antigüidade, Michelangelo perseguiu a anatomia perfeita e o ponto de vista ideal. Imaginem que essa escultura foi feita para ser vista de frente, para que de um golpe pudéssemos perceber que tudo repousa tranquilamente em seu devido lugar. As partes formam um conjunto coerente extraído de um único bloco de mármore. Michelangelo acreditava que suas obras estavam dentro do bloco e que cabia a ele retirá-las de lá, aos poucos. O entalhe direto no mármore, sem estudos prévios ou meios mecânicos de marcação no bloco, as libertava, como se o escultor lhes desse um sopro de vida. O homem divino que dava vida às suas obras conquistou o status de arte maior para a escultura, por defender que ela era uma arte racional, assim como a pintura e a arquitetura, e não apenas uma arte manual, como os artesões medievais a encaravam. A força de suas figuras humanas ultrapassaram sua época e influenciaram no século XIX o artista que realizou o Beijo.
Auguste Rodin, artista francês, acabou com um período de estagnação da escultura depois que a obra apaixonada de Michelangelo fora decomposta em fórmulas simplistas pela Academia, que as repetia sem entendê-las. O