Análise da personagem "conceição".
Machado de Assis
A personagem retratada no conto é diferente das outras mulheres machadianas, que são, em sua maioria, fortes e decididas. Conceição é a típica "mal-amada", resignada em sua condição de mulher traída e submissa às regras sociais. Porém, ela não é assim somente por conveniência ou recato, mas sim por ser naturalmente resignada, morna, sem vontade ou paixão.
A descrição do autor é um rol de adjetivos que, se não ofendem, tampouco louvam: passiva, moderada, atenuada, resignada. "Aceitaria um harém (para o marido) com as aparências salvas", "não fazia mal a ninguém, perdoava tudo", "o próprio rosto era mediano, nem bonito, nem feio". Até o adjetivo "simpática", dentro desse contexto, soa como apatia: Conceição é retratada, na verdade, como a mulher boazinha, que aceita tudo, que nada quer, exceto não ofender ou perturbar. De certa forma, a personalidade descrita é uma crítica do autor ao papel que se esperava da mulher na época: submissão, passividade, ser "normal".
Durante a narrativa, Machado de Assis apimenta, tenta chacoalhar essa personalidade nula, ao mostrar que Conceição sente desejo por Nogueira, o que dá ao leitor a impressão - e até a esperança - que ela irá consumar esse desejo. Mas, numa demonstração de completa coerência com a estrutura da personagem, o autor faz com que ela acabe perdendo o interesse pelo rapaz, e comece novamente a pensar em trivialidades, quando "entrou a olhar à toa para as paredes". A transformação se desfaz, a "santa" prevalece sobre a adúltera, a passividade sufoca o desejo, tornando Conceição, nas palavras de Nogueira, "como sempre, natural, benigna". Um eufemismo machadiano para monótona, sem-graça,