A missa
A frase inicial já nos leva a ambigüidades: "Nunca pude entender a conversação que tive com uma senhora, há muitos anos, contava eu dezessete, ela trinta." Como entender, se nem mesmo o narrador entende? É a marca e a técnica que Machado usa em sua narrativa. Teremos sim que tentar elucidar o mistério da alma humana.
O enredo Missa do galo é um conto de Machado de Assis, que não nos traz revelações surpreendentes, porém, como é próprio do autor, está carregado de reflexões do fundo da alma mostrando-nos as várias faces do comportamento humano. È um traço doce e melancólico sobre a relação homem mulher. Ele faz questão de mostrar o cenário e através dele nos envolve. Ele não faz questão de descrever as suas personagens e é uma característica do Naturalismo. Ele prefere descrever o lado psicológico delas e isso faz uma ruptura entre o que é real e o que é psicológico. È considerado moderno por justamente criar essa atmosfera de um flagrante do nosso dia-a-dia.
A estrutura Toda a trama acontece na sala da frente, de uma casa mal assombrada, localizada na Rua do Senado, Rio de Janeiro. Havia uma mesa no centro da sala, algumas cadeiras, cortina na janela, um canapé e um espelho. Nas paredes, dois quadros completavam aquela atmosfera de cumplicidade entre Conceição e Nogueira. O conto mostra o encontro e o tímido diálogo entre um jovem e uma senhora casada numa noite de Natal. Praticamente nada acontece entre os dois. Mas Machado parece dizer que, onde nada acontece, tudo pode acontecer e para que o percebamos, é preciso ler nas entrelinhas as marcas do desejo não explícito. A complicação começa quando Conceição entra na sala onde Nogueira estava lendo um romance, fazendo hora e esperando pela meia-noite. O enredo segue descrevendo o inesperado encontro, numa noite de natal, entre um rapaz com dezesseis anos e uma mulher madura de