Análise antropológica de poema
José Saramago
Aqui, na Terra, a fome continua,
A miséria, o luto, e outra vez a fome.
Acendemos cigarros em fogos de napalme
E dizemos amor sem saber o que seja.
Mas fizemos de ti a prova da riqueza,
E também da pobreza, e da fome outra vez.
E pusemos em ti sei lá bem que desejo
De mais alto que nós, e melhor e mais puro.
No jornal, de olhos tensos, soletramos
As vertigens do espaço e maravilhas:
Oceanos salgados que circundam
Ilhas mortas de sede, onde não chove.
Mas o mundo, astronauta, é boa mesa
Onde come, brincando, só a fome,
Só a fome, astronauta, só a fome,
E são brinquedos as bombas de napalme.
Comentário:
Nota-se que a questão central do poema de José Saramago é o avanço científico e a miséria no mundo. Nos versos Oceanos salgados que circundam/ Ilhas mortas de sede, onde não chove, interpreta-se que a sociedade moderna é repleta de homens prepotentes, os quais acham que são superiores aos outros. Nesses versos ainda pode ser percebido o monopólio do poder e a superioridade absoluta de um povo sobre outro, de uma determinada classe social sobre a outra.
É notável a contraposição da fartura de uma “boa mesa” à fome. Os problemas de hoje, como a fome, a miséria e a desigualdade social são percebidos no decorrer dos versos da segunda estrofe, onde os substantivos amor, riqueza, pobreza, fome e desejo mostram a insatisfação da sociedade e a contradição social (desigualdade social). Vivemos em um mundo prepotente, onde o poder está centralizado na mão de poucos, sendo que estes responsáveis pelo poder, não olham as mazelas vividas pelo ser humano.