Antropo
Redes de jovens e participação política
Ann Mische
Universidade de Columbia
Este artigo faz parte de tese de doutorado defendida na New School for Social Research e envolveu dois anos de pesquisa de campo com várias organizações políticas e sociais de jovens brasileiros nos anos 90. Agradeço os comentários de Helena Abramo, Mustafa Emirbayer, Fernando Rossetti Ferreira, Maria da Gloria Gohn, Carlos
Antonio Costa Ribeiro, Salvador Sandoval, Charles Tilly, e Harrison White.
Cinco anos depois das manifestações juvenis que animaram o país e ajudaram a derrotar um presidente, esses eventos ainda inspiram surpresa e mistificação. A convergência dramática dos “caras pintadas” nas ruas das principais cidades brasileiras em agosto de 1992 tem gerado interpretações contraditórias, desde as celebrações eufóricas do “renascimento” da resistência estudantil de três décadas atrás, até as manipulações cínicas dos meios de propaganda, usando a “grife” dos caras pintadas para vender roupas, cursinhos, e computadores. Até hoje há poucas tentativas sérias de analisar as origens e os impactos desses eventos em termos da especificidade histórica dessa corte de jovens. Neste ensaio, procuro examinar as manifestações de 1992 numa perspectiva histórica, analisando tanto as mudanças nas relações sociais, quanto as reformulações político-culturais que influiram na participação dos jovens brasileiros nas últimas três décadas.
Comecemos com as palavras de um dos jovens que se destacou na época: “O movimento estudantil hoje é outro (…) mudou pelos próprios estudantes.
Eles despertaram e começaram a descobrir o que é
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lutar verdadeiramente pela cidadania. É uma geração que tem consciência de cidadania”1. Além do heroísmo, essa declaração de Lindberg Farias, presidente da União Nacional dos Estudantes na época, levanta uma série de perguntas críticas para a análise da participação política da juventude. De que consiste essa nova