Antologia poetica
Chove. É dia de Natal
Lá para o Norte é melhor
Há a neve que faz mal,
E o frio que é ainda pior.
E toda a gente é contente
Porque é dia de o ficar
Chove no Natal presente
Antes isso que nevar.
Pois apesar de ser esse
O Natal da convenção,
Quando o corpo me arrefece
Tenho frio e Natal não.
Deixo sentir a quem quadra
E o Natal de quem o fez,
Pois se escrevo ainda outra quadra
Fico gelado dos pés.
Fernando Pessoa
Esse poema, portanto, mostra características da poética de Fernando Pessoa como a utilização de quartetos, a métrica de sete versos (em redondilho maior) e uma linguagem simples, porém de forma bem trabalhada. Além disso, mesmo através de um humor negro, conforme o penúltimo verso, há presente no texto um dos temas de sua poética que é a metapoesia.
O poema Autopsicografia, de Fernando Pessoa, ocupa no conjunto histórico da produção poética um lugar a que poucas obras tiveram acesso: o das que conquistaram a unanimidade de crítica e de público.
E, ao mesmo tempo, ele se encaixa com perfeição em dois dos principais conteúdos abordados na disciplina Teorias Contemporâneas da Literatura, na qual o presente trabalho se insere.
Por um lado, temos as questões ligadas à Teoria da Literatura em suas várias correntes, sobre a qual Fernando Pessoa acrescenta sua interpretação “autopsicografada” das relações entre realidade e representação.
E, por outro lado, temos o tema do duplo, tão importante no âmbito da produção literária ao longo dos tempos.
Neste contexto, julgamos o poema estudado como bastante significativo na apreensão dos conteúdos abordados na presente disciplina.
Autopsicografia
O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama