Anita
JUDAICO
Anita Sayuri Aguena
1
Introdução
É sabido que a construção da filosofia medieval fora, em sua extensa parcela, fundamentada pelas crenças religiosas monoteístas em conflito com as questões trazidas pelo pensamento clássico pagão. Para nossas vistas contemporâneas, seguindo os manuais de filosofia, essa contenda se resolveu pelas mãos dos teólogos cristãos, que conseguiram utilizar tanto as teorias aristotélicas, quanto as platônicas como confirmadores daquilo que a crença divina já comunicava. Contudo, em meio a tantas polêmicas criadas a respeito do Medievo, ficou soterrada uma parte da história filosófica que transformaria esse quadro de considerações. Estamos nos referindo à participação de muçulmanos e judeus, entre outros grupos, no processo de retransmissão do pensamento antigo ao mundo latino 1.
É cada vez mais evidente – mediante as crescentes pesquisas históricas acerca do período medieval – a influência de diversos nomes provenientes das duas religiões monoteístas citadas, no desenvolvimento da Escolástica cristã. Mas mais evidente que isso, é o fato de que nenhuma idéia ou resposta surge sozinha. Nem no caso dos filósofos da cristandade, nem mesmo daqueles que os influenciaram, os quais se inspiram, por sua vez, em seus próprios patrimônios culturais. Assim como não se pode
Graduanda em Filosofia (UNIFESP); Bolsista Iniciação Científica PIBIC/CNPq; Integrante do NUR –
Núcleo de Pesquisas em Filosofia Islâmica e Judaica.
1 Se considerarmos o momento histórico no qual o cristianismo toma força na Europa, vemos como medidas para seu estabelecimento, a destruição de templos pagãos, o fechamento da Escola de Atenas e a fuga dos sábios e filósofos para as regiões pertencentes à Pérsia. Logo, o pensar filosófico medievalista não se desenvolveu como aparenta no coração da cristandade ocidental, mas ao contrário, ela teve vários outros locais de produção e pelo menos outras duas línguas relevantes, além do latim: