Analise
Filmes recentes, como A origem e O homem sério, retratam o emaranhado de situações e surpresas que retiram, com frequência, a lógica da existência humana
Há sentido no mundo caótico em que vivemos? Há algo que amarre sua fragmentação, sua dispersão em espaços e tempos múltiplos e diferentes, impedindo um desabamento completo da vida? Dois filmes que estiveram em cartaz este ano nos cinemas brasileiros propõem-se a pensar tais questões, tecendo respostas cinematográficas completamente diferentes: A origem (Inception, 2010), de Christopher Nolan e Um homem sério (A serious man, 2009), de Joel e Ethan Cohen.
Duas propostas de provocações ao espectador. Com roteiro e montagem bastante intrincados, A origem cria um universo repleto de ações que acontecem num vai-e-vem entre os sonhos de seus personagens; desperta o desejo, em quem o assiste, de checar se o diretor foi bem sucedido em fazer tudo se encaixar. Não foi à toa que o filme rendeu muitas discussões em blogs, fóruns e redes sociais na internet: debates sobre possíveis interpretações, sobre quem, afinal, entendeu o filme.
Contando a trajetória de um homem interrompida por uma série de incidentes nada felizes, os irmãos Cohen apostam num outro desafio ao espectador: e quando nada faz sentido? Como lidar com a imprevisibilidade da vida quando tudo parece desmoronar?
O quebra-cabeças de Nolan
Em A origem, Dom Cobb comanda uma equipe especialista em invadir inconscientes alheios para roubar segredos para empresas concorrentes: uma espécie de espionagem industrial através dos sonhos. O negócio, agora, será implantar – em vez de roubar – uma ideia.
Será principalmente através de Ariadne que o espectador irá aprender as regras do negócio de Cobb e do universo criado por Nolan. Aliás, essas regras serão repetidamente explicadas durante o filme: uma tentativa do diretor de criar uma lógica no caos, de lhe conferir uma ordem e tornar o filme verossímil. Parece ser sua