Analise

Antero de QuentalA obra poética de Antero de Quental é um testemunho tanto de sua fecunda trajetória intelectual, quanto de seu grande talento literário. Após a publicação das Odes modernas, em 1865, lançou os Sonetos completos (1866), em edição organizada pelo amigo Oliveira Martins e, em 1871, Primaveras românticas. Em publicação póstuma, Raios de extinta luz (1892).Nos trinta anos de produção poética, Antero de Quental passou por algumas fases ou momentos distintos, que resumidamente poderiam ser apresentados da seguinte maneira:1º momento: sob influência dos românticos, sua poesia assume um tom arrebatado, apaixonado. Os temas (Deus, a Natureza, a mulher) são tratados de modo um tanto ingênuo. Observa-se, em muitos textos, uma idealização claramente platônica.2º momento: a influência dos autores lidos é observada no tom mais panfletário assumido pelos sonetos. A religião é vista como algo incapaz de solucionar os graves problemas do ser humano, e o arrebatamento com que Antero fala da Justiça e da Verdade traduz sua crença no ideal socialista.3º momento: fase mais introspectiva e metafisica, de indagações acerca da Verdade, da Fé, do sentimento da próxima existência. Antero mergulha na própria consciência e apresenta sua face mais pessimista.A organização de sua produção poética em diferentes momentos justifica-se apenas como artificio didático, havendo alternância dessas tendências nos sonetos que escreveu.A um poetaTu, que dormes, espirito sereno,Posto à sombra dos cedros seculares,Como um levita à sombra dos altares,Longe da luta e do fragor terreno,Acorda! É tempo! O Sol, já alto e pleno,Afugentou as larvas tumulares...Para surgir do seio desses mares,Um mundo novo espera só um aceno...Escuta! É a grande voz das multidões!São teus irmãos, que se erguem! São canções...Mas de guerra... e são vozes de rebate!Ergue-te, pois, soltado do Futuro,E dos raios de luz do sonho puro,Sonhador, faze espada de combate!Frador: ruído muito forte, estampido.Levita: membro