Analise
García Márquez diz na primeira página de sua novela: “O mundo era tão recente que muitas coisas careciam de nome e para mencioná-las se precisava apontar com o dedo”.
Neste texto está recolhida a obra da Criação, cuja descrição completa se encontra nas primeiras páginas da Bíblia.
O êxodo
A fuga de Moisés para o deserto após ter matado o egípcio e a posterior saída do povo hebreu, episódios que são narrados no livro do Êxodo, estão representados em Cem anos de solidão pela fuga de José Arcádio Buendía e seu povo de Riohacha. Depois de matar Prudêncio Aguilar, atravessando-lhe a garganta com uma lança, José Arcádio Buendía não conseguia tranquilizar a sua consciência. Cansada de vê-lo sofrer, sua mulher, Úrsula, lhe disse:
“‘Está bem, Prudêncio. Nós vamos embora deste povoado para o mais longe possível e não voltaremos nunca mais. Agora vá sossegado.’ Foi assim que empreenderam a travessia da serra. Vários amigos de José Arcádio Buendía, jovens como ele, encantados com a aventura, desfizeram as suas casas e carregaram com as mulheres e os filhos para a terra que ninguém lhes havia prometido.”
A chegada dos peregrinos ao seu ponto de destino parece calcada no capítulo 34 do Deuteronômio: “Certa manhã, depois de quase dois anos de travessia, foram eles os primeiros mortais que viram a vertente ocidental da serra. Do cume nublado contemplaram a imensa planície aquática do grande pântano, espraiada até o outro lado do mundo”.
As pragas
Nos capítulos 7, 8, 9, 10, 11 e 12 do livro do Êxodo são relatadas as dez pragas que Deus desencadeou para obrigar o faraó do Egito a deixar sair de seus domínio o povo hebreu. Mesmo que estas pragas possam estar relacionadas a fenômenos naturais, revestem em maior ou menor grau o caráter poderoso e milagroso de Deus.
Para Ricardo Gullón, o paralelo entre as pragas do Egito e as pragas sofridas por Macondo “salta à vista”. Macondo sofre a praga da insônia, das guerras civis, do esquecimento, da solapada invasão