analise feliz aniversario
Clarice Lispector tem a maestria de revelar as transformações dos sujeitos de modo profundo, denso, transcendente, epifânico. Suas obras colocam à mostra os grandes conflitos do ser humano, explorando com muita sutileza as regiões mais profundas e inexprimíveis da alma, aliando razão e sensibilidade por meio de uma linguagem extremamente poética.
Em Feliz aniversário, a infelicidade é a matéria secreta que perturba e lateja na felicidade de uma festinha de aniversário de D. Anita, uma senhora que completa oitenta e nove anos, e seus familiares reúnem-se para comemorar a data. Zilda, a filha com quem a aniversariante mora, organiza a casa para receber a família, prepara tudo com antecedência para que nenhum imprevisto aconteça. Pouco a pouco os convidados vão chegando; os filhos, as noras, os netos, quase todos ali fingem comemorar o aniversário. A família, vinda do subúrbio, mas também de Ipanema, chega aos poucos a Copacabana para a festa de D. Anita, a quase nonagenária. Cadeiras dispostas ao longo das paredes, uma mesa típica de festa de família, guardanapos coloridos, balões, groselhas e alusões ao "Happy Birthday".
Logo depois do almoço, a aniversariante é encarcerada em seu vestido de festa, com presilha, broche e um odor forte de água de colônia.
A filha Zilda é um personagem manipulado pelo dever de realizar uma festa de aniversário para sua mãe, que completa oitenta e nove anos, arruma a casa, ocupa-se com os preparativos e convida os familiares para a comemoração. Nota-se que, no nível do parecer, a comemoração simula-se prazerosa, mas a manipulação de Zilda não se dá pelo querer-fazer, ou seja, realizar a festa de aniversário da mãe, mas sim pelo dever-fazer. Assim, no nível do ser, ao focalizar o ponto de vista de Zilda, o narrador revela-nos o quanto ela se sente revoltada