Analise do Conto

1148 palavras 5 páginas
Nenhum país passa impunemente por duas décadas de ditadura. Mesmo depois de restabelecida a democracia, as marcas do período de exceção se espalham por várias áreas e por muitos anos. No caso brasileiro, nem mesmo quem nasceu depois da Constituição de 1988 está totalmente livre dos efeitos do golpe de 1964: eles estão presentes na educação, na segurança e, principalmente, na cultura política dos brasileiros.

E embora haja muitos que ainda considerem o período da ditadura como um tempo com menos escândalos políticos ou como uma época mais segura – até em função de a censura ter barrado à época notícias que não interessavam ao regime –, os índices de corrupção e de insegurança de hoje podem ter sido causados em grande medida devido às decisões tomadas naquela época. A desmobilização da sociedade, a divisão cada vez mais forte entre governados e governantes e a crença de que só o poder central poderia resolver os problemas da nação levaram o país a ter uma sociedade civil fraca e impotente – incapaz de fazer os políticos agirem como devem e de cobrar medidas para melhorar os serviços públicos.

“Criou-se uma ética da servidão”, resume Roberto Romano, professor de Ética e de Ciência Política da Unicamp. Nesse sistema, quem tem o poder recebe as garantias de que, faça o que fizer, ninguém poderá lhe cobrar nada. E quem não governa sabe que, se tiver “juízo”, meramente obedecerá. A cultura do autoritarismo sempre existiu no país. Mas, segundo Romano, intensificou-se e se centralizou com as duas ditaduras do século 20 – a de Getúlio Vargas e a dos militares. “Antes, o medo era do coronel da região. Depois, passou a haver temor físico do Estado central.”

Nesse modelo ético, o povo deixa de assumir a responsabilidade por seus atos, delegando soluções para quem ocupa cargos e posições. O outro lado, porém, também perde responsabilidade, e até os servidores menos importantes, amparados na impossibilidade de fiscalização, agem como quiserem. “O vice-presidente Pedro

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