Analise de texto biblico
A narratividade do livro de Rute
Pe. Jaldemir Vitório SJ
Introdução
A Bíblia – Palavra de Deus – chega às comunidades e às pessoas de fé em forma de literatura. Como literatura, tem a mesma fisionomia do que se poderia chamar literatura profana. Nada na Bíblia identifica-se como “linguagem celeste”, linguajar não humano. É o mistério da encarnação da Palavra. Deus fala a linguagem humana para ser entendido. Os seres humanos são desafiados a encontrar a Palavra de Deus revestida com palavras humanas. O grande repto das comunidades de fé consiste em desentranhar a mensagem salvífica nas entrelinhas de um texto ao mesmo tempo fácil e difícil. Fácil, pois, por meio de boas traduções disponíveis, pode-se ter acesso a textos bíblicos confiáveis. Difícil, por se tratar de um texto escrito num horizonte cultural e lingüístico muito distinto dos horizontes atuais. Para entendê-lo, requer-se um instrumental específico, apto a possibilitar o acesso à mensagem veiculada. Em outras palavras: só é possível chegar ao sentido do texto num processo de interpretação. Os textos bíblicos foram escritos para serem lidos e, por conseguinte, interpretados. Cada leitura faz brotar um manancial inesgotável de sentido. Sem leitores e leitoras intérpretes – pessoas e comunidades –, os textos bíblicos permaneceriam letra morta. Lidos e interpretados, têm a força de se tornarem Palavra de Deus. Lidos sem o esforço de interpretação, limitam-se à materialidade da letra. O objetivo deste artigo consiste em aplicar o método de análise narrativa ao livro de Rute. Este se presta muito bem para a finalidade por se tratar de uma narrativa breve e, ao mesmo tempo, como se verá, portadora de inesgotável riqueza literária. O ponto de partida será os seis passos indicados por Daniel Marguerat. Trata-se de oferecer uma breve explicação sobre cada um deles e verificar como ocorrem no livro de Rute.
1. A intriga: como se articula o