analise de poema

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O poema camoniano diz que a separação dos amantes, traduzida pela metonímia “apartar-se de uma outra vontade”, é tão horrenda que só a madrugada lhe pode assistir e assim será por todo o sempre, isto é, enquanto houver saudade no mundo e amantes separando-se.
Lembremos agora “Transforma-se o amador na cousa amada” e a versão contemporânea de Carlos Filipe Moisés “A paixão segundo Camões”. Para Eduardo Lourenço em Camões, Antero e Pessoa: poesia e metafísica, aquele soneto representa um poema-questão que está acima dos jogos de corte. Mergulhado em petrarquismo e platonismo, nele a ausência da amada é que alimenta o amador, de início satisfeito com o “muito imaginar” que a traria para junto de si. Quer dizer, nas quadras, contenta-se o eu-lírico com a idealização do amor, com o amor de almas. Mas nos tercetos o recusa e torna-se aristotélico, pois “como o acidente em seu sujeito” e “como a matéria simples busca a forma”, tal como, por exemplo, a água (=matéria) toma a forma do conteúdo do pote que ela preencher, quer a satisfação do amor carnal, material, corpóreo:
Transforma-se o amador na cousa amada,
Por virtude do muito imaginar;
Não tenho, logo, mais que desejar,
Pois em mi[m] tenho a parte desejada. Se nela está minha alma transformada,
Que mais deseja o corpo de alcançar?
Em si somente pode descansar,
Pois consigo tal alma está liada. Mas esta linda e pura semidéia,
Que, como o acidente em seu sujeito,
Assi[m] coa minh’ alma se conforma, Está no pensamento como idéia;
[E] o vivo e puro amor de que sou feito,
Como a matéria simples busca a forma. (p. 301)
Já o meta-soneto de Carlos Felipe Moisés retrata um amante contemporâneo, nada altivo, disperso, errando de amor em amor, sem pensar no passado, vivendo só o presente, “ausência, nada”.
Transforma-se o amador em coisa alguma, sem dolo, sem virtude e sem razão.
Por muito amar, dispersa o coração e rói daquilo que é a alma nenhuma As esperanças perde, uma a

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