Análise poema
O assunto do poema "Isto", tal como o do poema "Autopsicografia" foca a teoria da criação poética. Parece até que a afirmação "dizem que finjo ou minto / Tudo que escrevo" é uma resposta a supostas críticas nascidas de possíveis interpretações do poema "Autopsicografia".
O poeta responde na primeira parte ( primeira estrofe) que o seu fingimento não é propriamente mentira, mas uma síntese rara (como se ele fosse um predestinado) da sensação e da imaginação.
Enquanto em "Autopsicografia" o poeta distinguia entre sensação (dor sentida) e fingimento (dor imaginada), aqui simplesmente sente com a imaginação (atente-se no valor expressivo do advérbio de modo a marcar a exclusividade de outra qualquer sensação que não seja a sensação intelectual, a sensação-imaginação). O poeta parece esquecer, neste poema, o ponto de partida que em "Autopsicografia" era a sensação (coração). Mas, não esquece, simplesmente realiza (no acto da criação poética) a síntese da sensação com a imaginação, sobressaindo esta, porque intelectual, operada pela razão. O poeta não usa o coração, porque lhe basta a imaginação, que surge aqui como concentração do sensível e do intelectual.
Em "Autopsicografia", o poeta fala na 3.ª pessoa, dando a entender que a teoria exposta tem aplicação universal: é um processo verificável em todo o verdadeiro poeta. No poema "Isto", o poeta fala na 1.ª pessoa, não há nenhuma frase de carácter axiomático, de aplicação universal. Aqui Fernando Pessoa apresenta-se como o poeta intelectual por excelência.
A segunda parte do poema (segunda estrofe) constitui uma confirmação do conteúdo da primeira parte, baseada na experiência vivida. Todas as contingências da sua vida ("Tudo o que sonho ou passo, / O que me falha ou finda") são como que um terraço sobre outra coisa, e essa coisa é que é linda. Essa coisa são os dados da imaginação, são a transfiguração artística operada pela