Analise de luiz camões
Um soneto de natureza proemial, quando o emissor lírico tinha ainda esperança de ser feliz, a vontade amorosa levou-o a escrever poemas em que ficavam descritos os tantos efeitos que esse sentimento nele provocava. Todavia, Amor logo temeu que tais versos pudessem revelar os seus enganos àqueles que, tendo livre opinião, não se deixariam subjugar pelos afetos, e por isso decidiu ofuscar o impulso do poeta com diferentes mágoas. O amante chama a atenção, enfaticamente, de todos quantos estão dominados por um desígnio amoroso, e indica, de seguida, que os poucos versos que irão ler contêm somente límpidas verdades. A primeira quadra faz referência ao passado do amante, quando a sua ventura, então favorável, lhe permitia ter confiança no alcance da satisfação que provém da correspondência amorosa. Nessa altura, o emissor lírico, convertido em autor implicado neste soneto como responsável fictício pela elaboração dos poemas, sentia necessidade de cantar, através da escrita, as emoções que esse sentimento o levava a experimentar, pois a doçura da paixão a tal convidava. Mas Amor, receoso de que a sua mensagem, ao dar a conhecer os enganos da paixão, servisse para precaver os leitores avisados, desvaneceu de súbito as suas capacidades poéticas, incutindo-lhe apenas pesar. Note-se que a transição da primeira para a segunda quadra é realizada por meio da conjunção adversativa, porém, o que faz com que os conteúdos das duas estrofes pareçam opostos, designadamente através do recurso ao par antitético Fortuna / Amor, entidades