Analise canção da moça fantasma de belo horizonte-trecho
Eu sou a Moça-Fantasma que espera na Rua do Chumbo o carro da madrugada.
Eu sou branca e longa e fria, a minha carne é um suspiro na madrugada da serra.
Eu sou a Moça-Fantasma.
O meu nome era Maria.
Maria-Que-Morreu-Antes.
[...]
Morri sem ter tido tempo de ser vossa, como as outras.
Não me conformo com isso, e quando as polícias dormem em mim e fora de mim, meu espectro itinerante desce a Serra do Curral, vai olhando as casas novas[...]
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Em Canção da Moça-Fantasma de Belo Horizonte, temos um poema inspirado em um “Lenda urbana” que se repete: a da noiva de que morre de maneira trágica antes do casamento ou se mata quando se sabe traída antes de casar. Assim o poema cria um lamento para a morta, dando à obra um tom espectral, lúgubre, mas não romântico. O realismo com que a noiva cadáver impinge a sua etérea existência, a visão dos homens por quem se apaixonou dá a noiva morta um certo caráter mundano, mas perdido ao mesmo tempo, em sua eterna procura pelo amado, enciumada com outros colos que poderão envolve-lo fazendo com que se tenha uma certa consideração de um espírito perdido em vida e inconformado com a morte
Metáfora da comunhão adiada de Drummond com a humanidade, a Moça-Fantasma aquele ente que, apartado do mundo dos vivos, sofre por perder a dimensão humana de ser vivente que, nem em vida, nem na morte, consegue o encontro com o outro. “Morri sem ter tido tempo / de ser vossa” como as outras.