Amar em Silêncio
Era uma madrugada de sábado, duas horas e três minutos, noite de intempéries de outubro e apenas gotas de chuva quebrando o silêncio ao impactar contra o vidro das portas da sacada.
Na minha cama desfeita, eu vestia um short de algodão, abraçava um travesseiro e como manda a lógica da manutenção da temperatura do corpo, tinha um dos pés do lado de fora do edredom. Mergulhado no meu mundo dos sonhos, fui retirado assustadamente ao ver e ouvir o telefone piscar e tocar no criado mudo da cabeceira como se estivesse a gritar desesperadamente. Fui trazendo ao meu ouvido, preocupado, pois temia que estivesse acontecido algo ruim com alguém que eu amasse.
- Alô? ... Alô?... – quase no insucesso, ouvia apenas ruídos turvos e uma respiração ofegante do outro lado. Fiquei por alguns segundos em silêncio até que...
-... desculpa, eu sei que não devia estar te ligando a essa hora, mas meu dia foi terrível e eu preciso te ver... – aquela voz não estava mais afável e macia como das outras vezes em que eu havia escutado, oscilava entre os graves, tutibeava e soluçava de choro. Tudo isso me induzira a deduzir com quem falava e eu sem reluta e também entendendo o tamanho da fragilidade da qual iria lidar.
-... pode sim vir aqui! – dizia eu, convicto e me vigiando para que você interpretasse fielmente minha afirmação de forma segura.
Fui me compondo aos poucos, sentei na cama, olhei para o relógio e realmente era tarde da noite, mas que fosse, meu carinho e apreço por você me mobilizavam e sinceramente? É isso o que importa!
Aos poucos e ainda zonzo, fui me juntando, vestindo meu cardigan que estava em cima do baú aos pés da cama ao mesmo tempo em que calçava minhas pantufas. Ia em direção a cozinha, sabia o que estava por vir e também queria fazer algo para nos aquecermos. Na cozinha colocava um pouco de água no bule, acendia a boca do fogão quando me deparei com a campainha a tocar. Fui aos passos largos e logo comecei a girar a