Alguem sargento
A personagem de uma narrativa é um ser fictício que representa uma pessoa. Para o crítico Roland Barthes, ela é um ser de papel, e não um indivíduo de carne e osso. É um ser construído por palavras. Esse ser fictício recebe uma série de predicados (qualidades, caracterizações), conforme o que essa personagem fala/pensa; o que outras personagens ou o narrador dizem dela. A predicação pode ser direta quando a informação sobre a personagem vem através da voz do narrador, de outra personagem ou pela própria voz dessa personagem. São informações explícitas, que não requerem dedução por parte do leitor. Já a predicação indireta envolve interpretação: a partir da ação e das falas/pensamentos das personagens o leitor deve deduzir como a personagem está sendo caracterizada.
PERSONAGENS SIMPLES E COMPLEXAS A economia da narrativa pede, para a caracterização de personagens mais simples, uma forma de construção mais rápida e direta. Às vezes, a personagem reduz-se a apenas uma frase do tipo “João é um camponês” (durante a narrativa, essa personagem não vai ser outra coisa, apenas um camponês). Sua tendência é não evoluir, mantendo-se, assim, dentro de um sistema estático. Se uma personagem é “boa”, ela permanecerá com esse atributo no decorrer da narrativa, com ações previsíveis. Em relação a personagens mais complexas, a tendência é oposta: a predicação será imprevisível. O discurso narrativo coloca-as numa rede de traços caracterizadores em que muitos deles se repetem e outros se modificam, às vezes de forma ambígua. Se o herói num determinado momento é corajoso, noutro já é covarde; se é pacato, logo depois se transforma e se torna violento, e assim por diante. Dessa forma quanto mais ambígua for a predicação, mais complexa tenderá a ser a personagem. Há, entretanto, limites para essa ambiguidade: a consistência da caracterização. As transformações devem ser consistentes em relação a uma lógica interna do relato, da narrativa.
PERSONAGENS PLANAS E