Alfarrabios o garatuja
J. DE ALENCAR
ALFARRABIOS
CHRONICA DOS TEMPOS COLONIAES
O GARATUJA
RIO DE JANEIRO
H. GARNIER, LIVREIRO-EDITOR
71, RUA DO OUVIDOR, 71
E
6, RUA DOS SAINTS-PÈRES, 6
PARIS
CAVACO
O Garatuja é a primeira de uma serie de chronicas dos tempos coloniaes, algumas já escriptas, outras apenas esboçadas, em tempos idos, quando o pensamento, ainda não de todo enredado nas teias do mundo, tinha folga para vaguear pelo passado, e entreter-se com as pieguices e ingenuidades de nossos pais, a quem o mais simplorio garoto de agora enfiaria, não pelo fundo de uma agulha, o que não fôra nenhuma façanha, mas pela cabeça de um alfinete. Todavia, se o leitor no folhear estas paginas, tiver tempo de pensar, e se deixe ir a cogitar na singularidade da revolução, que esteve para ensanguentar
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a heroica, mas pacata, cidade de S. Sebastião, lembre-se da magna questão do martellinho, que por pouco não perturbou a paz maçonica, da mesma fórma que outr'ora o hyssope na igreja d'Elvas.
Então ha de concordar comigo que o homem é sempre menino até morrer de velhice; e que depois das criançadas do pirralho, vêm as travessuras do rapazola, e por ultimo as estrepolias do barbaças, as quaes são as peiores, sobretudo quando começa-lhe a grizar o pello.
Quem duvidar do cunho historico d'esta simples narrativa, poderá facilmento verifical-o abrindo o 3o volume dos Annaes do
Rio de Janeiro, escriptos pelo Dr. Balthasar da Silva Lisboa.
N'aquelle tempo o cidadão, porque servíra o cargo de juiz de fóra e presidente da camara, julgava-se obrigado a offerecer a seu paiz o fructo dos conhecimentos adquiridos nas diligencias do serviço publico, Hoje em dia nem a juizes, nem a
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edís, sobra tempo para se occuparem com taes nugas, pois todo se vae em subir e descer escadas, pôr e tirar o chapéo, dobrar e torcer a cerviz.
No referido tomo, a pagina 314, entre os parrafos 35 e 39, apanhou o chronista fluminense pela rama os acontecimentos que pozeram em tumulto a