ALFABETIZAÇÃO DE ADULTOS E BIBLIOTECAS POPULARES
PAULO FREIRE
As minhas primeiras palavras são de agradecimento às idealizadoras e organizadoras deste Congresso por me terem convidado para nele participar, falando em torno de um tema que a mim sempre me interessou.
Falar de alfabetização de adultos e de bibliotecas populares é falar, entre muitos outros, do problema da leitura e da escrita. Não da leitura de palavras e de sua escrita em si próprias, como se lê-las e escrevê-las não implicasse uma outra leitura, prévia e concomitante àquela, a leitura da realidade mesma.
A compreensão crítica da alfabetização, que envolve a compreensão igualmente crítica da leitura, demanda a compreensão crítica da biblioteca.
Ao falar, porém, de uma visão crítica, autenticando-se numa prática da mesma forma crítica da alfabetização, reconheço e não só reconheço, mas sublinho, a existência de uma prática oposta e de uma compreensão também, que, em ensaio há muito tempo publicado, chamei de ingênua (1).
Seria enfadonho insistir aqui, exaustivamente, em pontos referidos em outras oportunidades em que tenho discutido o problema da alfabetização. De qualquer maneira, contudo, me parece importante, mesmo correndo o risco necessário de repetirem-se um pouco, tentar aclarar ou reaclarar o que venho chamando de prática e compreensão críticas da alfabetização, em oposição à ingênua e à “astuta”. Idênticas as duas últimas do ponto de vista objetivo, distinguem-se, porém, quanto à subjetividade de seus agentes.
O mito da neutralidade da educação, que leva à negação da natureza política do processo educativo e a tomá-lo como um quefazer puro, em que nos engajamos a serviço da humanidade entendido como uma abstração, é o ponto de partida para compreendermos as diferenças fundamentais entre uma prática ingênua, uma prática “astuta” e outra crítica.
Do ponto de vista crítico, é tão impossível negar a natureza política do processo educativo quanto negar o caráter