Autor: Luiz Zanin Oricchio Publicado em: O Estado de S. Paulo - 07/05/06 Fonte: http://www.sbpsp.org.br/exposicao_Freud/Arquivos/40.doc O diretor norte-americano encomendou o script de Freud além da Alma para o filósofo francês, mas o projeto de filme acabou tomando outro rumo Em 1958, John Huston encomendou a Sartre o roteiro do filme que queria fazer sobre a vida de Freud. Huston admirava Sartre e havia montado sua peça Entre Quatro Paredes. Era já o diretor consagrado de obras-primas como O Tesouro de Sierra Madre e O Segredo das Jóias. Sartre, por sua vez, era o papa do existencialismo e tornara-se o apóstolo da esquerda inteligente no após-guerra. Seria uma parceria e tanto. O filósofo topou o trabalho na hora e, ao final dele, entregou a Huston um calhamaço assustador. O roteiro, agora reeditado pela Nova Fronteira, tem 640 páginas (preço: R$ 70). É, literalmente, infilmável. Teria de ser uma minissérie, ou um filme como Berlin Alexanderplatz,de Fassbinder, com 16 horas de duração. Inviável. De modo que Huston foi picotando o roteiro, cortou-o e adaptou-o a tal ponto que Sartre proibiu que seu nome figurasse nos créditos. E assim foi feito. Sartre fez mais: disse aos amigos de Saint Germaindes-Près que diretores de cinema americano ficam tristes quando são obrigados a pensar. Comparando o livro com o filme, há, de fato, poucos pontos de semelhança. O roteiro parece mais a biografia intelectual de Sigmund Freud do que uma proposta para filmagem. Quem já teve oportunidade de enfrentar um roteiro sabe que eles são, em geral, ilegíveis. Funcionam como uma espécie de planta baixa de um filme hipotético, carta de intenções voltada para um futuro que às vezes não se realiza. O de Sartre, não. Apesar do tamanho indigesto, lê-se com muita facilidade. É livro escrito por alguém que havia estudado Freud com ardor e compreendido perfeitamente o que o psicanalista tinha a dizer com suas idéias inovadoras. Se Freud é tratado como um personagem, a ele é concedida a