Alberto Caeiro

3333 palavras 14 páginas
ALBERTO CAEIRO

A NOÇÃO DAS COISAS

Caeiro fala a partir de um ponto do conhecimento que faria pressupor uma personagem de velho, capaz de se identificar com toda a experiência do mundo. Mas Pessoa desenhou-o como um heterónimo jovem, mais jovem até que ele próprio (que o inventou aos 26 anos), e que havia de ser levado por uma morte prematura (precisamente aos 26 anos).
Outro paradoxo aparece formulado numa nota manuscrita de Pessoa que aparece na margem de um dos mais perfeitos poemas de O Guardador de Rebanhos, o IX: Caeiro é um "místico materialista".

IX - SOU UM GUARDADOR DE REBANHOS (ANÁLISE)

Os três versos inicias do poema IX de O Guardador de Rebanhos remetem diretamente para os versos de abertura deste conjunto, com o princípio do poema I ("Eu nunca guardei rebanhos, / Mas é como se os guardasse, / Minha alma é como um pastor"). Existe, pois, um retomar da definição inaugural da personagem Alberto Caeiro, que se desenvolve e constrói ao longo dos quarenta e nove poemas que constituem o conjunto O Guardador de Rebanhos.

Assim, a primeira estrofe inicia-se com uma metáfora ("Sou um guardador de rebanhos"), que ultrapassa a comparação inicial do poema I ""é como se"). Esta metáfora introduz a anulação da oposição entre o pensar e o sentir, e desenvolve-se através da plena identificação entre pensamentos e sensações, marca do Sensacionismo de Caeiro: o conhecimento da realidade adquire-se pela sua apropriação direta mediante os cinco sentidos humanos.

A segunda estrofe, espécie de intervalo reflexivo, exemplifica a identidade entre pensar e sentir, primeiro através de uma definição, depois metaforicamente, procedendo à objetivação do pensamento, isto é, conferindo-lhe um estatuto concreto, de objeto.

A estrofe final, momento de conclusão e, como tal, iniciada pelo conector "por isso", esclarece os conceitos de tristeza, felicidade, realidade e verdade. A tristeza provém do excesso, por isso é natural e não perturba o conhecimento da

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