Alberto caeiro
Poesia das sensações
O meu olhar é nítido como um girassol. Tenho o costume de andar pelas estradas Olhando para a direita e para a esquerda, E de vez em quando olhando para trás... E o que vejo a cada momento É aquilo que nunca antes eu tinha visto, E eu sei dar por isso muito bem... Sei ter o pasmo essencial Que tem uma criança se, ao nascer, Reparasse que nascera deveras... Sinto-me nascido a cada momento Para a eterna novidade do Mundo... Creio no mundo como num malmequer, Porque o vejo. Mas não penso nele Porque pensar é não compreender... O Mundo não se fez para pensarmos nele (Pensar é estar doente dos olhos) Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo... Eu não tenho filosofia; tenho sentidos... Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é, Mas porque a amo, e amo-a por isso Porque quem ama nunca sabe o que ama Nem sabe por que ama, nem o que é amar... Amar é a eterna inocência, E a única inocência não pensar... Alberto Caeiro, em "O Guardador de Rebanhos", 8-3-1914
Neste poema o sujeito poético no primeiro verso faz uma comparação com um girassol. O sujeito poético usa esta comparação para demonstrar a nitidez do seu olhar pois esta planta segue sempre o sol conforme as várias posições ao longo do dia. O poeta rejeita os pensamentos na sua relação com o mundo, como é dito no poema “ O Mundo não se fez para pensarmos nele “. Na segunda estrofe o sujeito fala-nos e compara novamente com uma planta, um malmequer Para ele basta sentir a realidade
O sujeito poético neste poema afirma que basta sentir a realidade, não precisa de a questionar, não precisa de saber porque é que ela existe.
Alberto Caeiro é um poeta que consegue submeter o pensamento ao sentir, abolir o vicio