AIDS e direitos humanos
Paulo Roney Ávila Fagúndez1
"A Cólera Esperança"
'Atiro-as contra as quinas erguidas desta madrugada, contra estes edifícios enormes, parados contra o cinza do céu sujo como o sabão que lava o piso dos botequins ao fim da noite.
Atiro-a contra o cansaço do mundo, contra o meu próprio e inenarrável cansaço, atiro-a em nome da utopia que é minha, a tua, a nossa utopia, atiro-a com raiva, sem estratégia, sem prudência, como hemorragia que se esvai e tinge a calçada com o esguicho do seu incêndio rubro.
Atiro-a para nada, para nenhum resultado do grito que precede o baque do corpo atropelado na rua.
Atiro-a no ar do mar, na curva corrosiva do azul, à porta dos orfanatos e prostíbulos, atiro-a ao chão como bile sanguinolenta que escorre, como quem cospe um dente arrancado por um murro na boca.
Mas atiro-a, flecha turva, esperança e nojo, vida e cólera, atiro-a com este punho fechado, com esta sede e esta fome, atiro-a com a funda mais funda do meu sonho mais profundo, atiro-a contra argentários e fundiários, opressores e ditadores, atiro-a em meu nome e em nome dos que não tem nome, e em nome dos que em dores e cólicas acordam para o seu nome, e ao rés-do-chão, em pleno pó, o desentranham."
Hélio Pelegrino
Considerações preliminares.
A saúde é definida pela OMS como sendo o bem estar físico, mental e social. Não basta a inexistência de doenças para que tenhamos saúde. Não há saúde plena. A grande maioria da população, conforme a Academia de Ciências da Rússia, vive num terceiro estado, em decorrência de desequilíbrios orgânicos. A vida é mudança. O organismo, como não poderia ser diferente, vive em constante transformação em busca do equilíbrio. No entanto, os processos vitais constituem-se em desequilíbrios que almejam a harmonia do corpo como um todo. A doença é um sinal de que algo não vai bem. Mas o que ela quer não é a desestruturação orgânica, porém promover uma