agrotóxicos
AGROTÓXICOS
FOTO ©ISTOCKPHOTO.COM/DUŠAN KOSTI
Substâncias já proibidas em vários países encontram mercado fértil em terras brasileiras
20 | CIÊNCIAHOJE | VOL. 50 | 296
CIÊNCIAS AMBIENTAIS
O Brasil é a lixeira tóxica do planeta. Desde 2008, somos os maiores consumidores globais de insumos químicos para agricultura. Mas, diante de uma balança comercial envaidecida por números sedutores, discutir os reveses desse modelo agrário tornou-se tabu. A eterna e robusta economia agroexportadora, baseada em bens primários de baixo valor agregado, insiste em se reafirmar
– ainda que assombrada por uma crise de percepção e acompanhada de temerosas dívidas sociais e ambientais.
HENRIQUE KUGLER
Ciência Hoje/RJ
Brasil vive um drama: ao acordar do sonho de uma economia agrária pujante, o país desperta para o pesadelo de ser, pelo quinto ano consecutivo, o maior consumidor de agrotóxicos do planeta. Balança comercial tinindo; agricultura a todo vapor. Mas quanto custa, por exemplo, uma saca de milho, soja ou algodão? Será que o preço de tais commodities
– que há tempos são o motor de uma economia primária à la colonialismo moderno – compensa os prejuízos sociais e ambientais negligenciados nos cálculos do comércio internacional?
“Pergunta difícil”, diz o economista Wagner Soares, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A Bolsa de Chicago define o preço da soja; mas não considera que, para se produzir cada saca, são aplicadas generosas doses de agrotóxicos que permanecem no ambiente natural – e no ser humano – por anos ou mesmo décadas. “Ao final das contas, quem paga pela intoxicação dos trabalhadores e pela contaminação ambiental é a sociedade”, afirma Soares. Em seu melhor economês, ele garante que as “externalidades negativas” de nosso modelo agrário continuam de fora dos cálculos.
Segundo o economista do IBGE, que recentemente estudou propriedades rurais no Paraná, cada
US$ 1 gasto na compra de agrotóxicos pode