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África fora do tempo - Revista de História
África fora do tempo
O ensino de história da África estabelecido em nossas escolas ainda traz visões conservadoras, mas novos estudos propõem abordagens estimulantes
Anderson Ribeiro Oliva
17/9/2007
A cada início de semestre letivo, faço um exercício com meus alunos da disciplina história da África. Peço que escrevam os nomes de quatro ou cinco povos africanos que, compulsoriamente, contribuíram para a formação da sociedade brasileira até o século XIX. Quase sempre, nesse momento, suas fisionomias ficam marcadas pela surpresa e dúvida. Nas últimas vezes, obtive algumas respostas satisfatórias, mas o silêncio da maioria foi muito inquietante.
Na busca por um entendimento sobre tão profundo distanciamento, é fácil chegar a determinadas conclusões: os africanos e suas múltiplas experiências históricas não foram apresentados à maioria dos brasileiros nas escolas; quando isso ocorreu, os conteúdos estavam, quase sempre, recheados de imprecisões; e, por fim, apesar da vigência de três anos da lei 10639/03, que tornou obrigatório o ensino de história e cultura afro-brasileira, e do parecer 003/2004 do Conselho Nacional de Educação, que estabeleceu algumas balizas para o ensino da história africana, um grande número de professores ainda se encontra desorientado em relação ao tema.
Assim, sem a existência de um espaço adequado para o assunto em nossos bancos escolares e com a divulgação de imagens depreciativas sobre os africanos (a fome, as guerras, as doenças), entramos num círculo vicioso de difícil superação.
Esses fatores serviram de incentivo para que realizássemos uma pesquisa acerca do papel e do tratamento concedidos à África nas mais de trinta coleções de livros didáticos de história confeccionadas para serem utilizadas no ensino fundamental (da quinta à oitava séries), entre 1995 e 2005. A investigação revelou que apenas onze livros dedicavam à história africana um capítulo