Adultização infantil
A adultização precoce dispõe de possibilidades inusitadas na sociedade em rede. As NTIC tanto oferecem espaços prósperos, instigadores às crianças como, na mesma proporção, na mesma força, trazem espaços perversos, ameaçadores. Os riscos de disseminação e agravamento do trabalho infantil hoje são maiores, assim como as possibilidades de combate. Ambas as possibilidades se aproximam e se aguçam na Terceira Revolução Industrial, de forma mais radical. As relações com a infância modificaram-se, pois estão associadas a outras técnicas, e os elementos que constituem a infância hoje tendem muito mais a instigá-la e a obstruí-la. Pois, concomitantemente ao fato de que as novas mediações ampliam a proteção à infância trazendo visibilidade às novas garantias legais, sobretudo com o advento do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA)40 no Brasil e da doutrina de proteção integral subjacente a essa lei, também características típicas da infância moderna sofrem rupturas e se refletem na própria construção do imaginário social sobre o papel da infância. A infância é o período da vida humana em que as constantes descobertas e o segredo são aspectos que, se respeitados, transformam gradualmente a criança, e são eles que a diferenciam da idade adulta. Os dados apresentados até agora demonstram como a infância vem sendo tensionada, como vem sofrendo modificações, confrontos e rupturas, que acabam pressionando a criança, cada vez mais cedo, a deparar-se com questões para as quais ainda não tem estrutura cognitiva e, sobretudo, emocional para resolver. É o caso da pressão sobre a sua sexualidade e a exposição à violência. Estes serão os dois aspectos da adultização precoce a serem explorados neste item. Há uma causalidade circular na construção social da infância hoje, pois as NTIC, que geram novos possíveis, dão visibilidade a segredos, adultizando precocemente a criança, que, por sua vez, ao adultizar-se