Admirável Mundo novo
Anthony Giddens*
A modernidade acreditou que, como coletivo humano, quanto mais soubéssemos sobre a realidade social e material mais seríamos capazes de controlá-las em beneficio dos nossos interesses e nos tornaríamos mestres do nosso próprio destino. Bem ao contrário, o mundo de hoje é aquele da incerteza e do risco produzidos. A globalização tem significado a transformação dos sistemas econômicos e da estratificação, assim como dos contextos da experiência social -o cotidiano, as intimidades da existência pessoal e as tradições culturais e políticas herdadas, o que tem expandido a reflexividade social. O mundo demanda uma política radical reconstituída, traçada a partir do conservadorismo filosófico, mas, também, preservando valores associados ao socialismo, visando a democratização da democracia.
Meu presente tema é sobre um mundo que nos tomou de surpresa. O mundo do fim do século vinte não resultou no que os pensadores do Iluminismo anteciparam, quando procuraram dar um sentido à história, buscando superar a influência da tradição e do dogma. Acreditavam, com razão, que, como humanidade coletiva, quanto mais viéssemos a conhecer a realidade social e material, mais seríamos capazes de controlá-la em função de nossos próprios interesses. Em particular, no caso da vida social, os seres humanos poderiam tornar-se não somente autores, mas donos de seu próprio destino.
Mas, os eventos não confirmaram esta idéia. O mundo em que vivemos hoje não é sujeito a um controle humano rígido -o que fazia parte das ambições da Esquerda e, poderia se dizer, dos pesadelos da Direita,
Bem ao contrário, é um mundo de deslocamentos e incertezas, um mundo que nos escapa. E, de forma perturbadora, o que se supunha criar uma certeza sempre maior -o avanço do conhecimentoe da intervenção humana - está, na realidade, profundamente envolvido nesta imprevisibilidade. Os exemplos abundam. Consideremos, por