Adeus
Poeta, crítico, ensaísta, ficcionista e dramaturgo, Jorge de Sena terá sido ainda um engenheiro civil em Lisboa, tendo que se exilar no Brasil após a participação de uma tentativa revolucionária em 1959, aceitando um convite para catedrático contratado de Teoria da Literatura. Jorge de Sena abraça, assim, a oportunidade para se dedicar às Letras, e aspirar, num novo país, à aceitação da sua escrita que não tinha obtido em Portugal. O Físico Prodigioso já foi escrito na Califórnia, para onde se mudou Jorge Sena, depois de se ter instituído uma ditadura militar no Brasil.
A história decorre na Idade Média e centra-se num jovem, formoso, que terá feito um pacto com o diabo, vendendo o seu corpo e obtendo vários poderes em troca. Com estes dons cedidos pelo diabo, viaja de castelo em castelo, ajudando damas doentes. Um dia, desce uma colina e, depois de se banhar no rio, estende-se nas ervas para dormitar um pouco. É assim que o descobrem três belas donzelas, que lhe contam a existência de uma rainha enferma, que definha numa cama.
No castelo, o jovem prepara um banho com o seu próprio sangue, onde se deverá banhar a dama, para terror dos físicos e do capelão. Estes, após o restauro da beleza e da saúde da dama, são apanhados na mesma banheira, esperando o mesmo resultado e, depois de os expulsar, o jovem destrói o líquido. Quando resolve confirmar o resultado do tratamento, envolve-se com a dama. Mas será esta a personagem inocente e perdida que faz crer?
Com uma história que poderia rivalizar com A Dama Pé de Cabra, a narração de O Físico Prodigioso divide-se, por vezes, para relatar duas versões dos mesmos acontecimentos: uma versão pura e inocente, outra devassa e indecente. E ainda que estas duas versões culminem no mesmo efeito sobre a história, dão-lhe uma dualidade interessante. Ainda que não consiga dizer que tenha achado a história excelente, possui várias reviravoltas engraçadas que se podem tornar irónicas.