Adaptação a igreja do diabo
Certo dia, percebendo que os tempos na humanidade eram outros, os homens tornavam-se cada dia mais céticos, suas histórias perdiam força, seu nome era motivo de chacota, competia-lhe zilhões de apelidos, carregava culpas que não lhe diziam respeito, por toda a história tivera um papel coadjuvante, sofria de demasiada desorganização e as seitas que levavam sua graça nada tinham a ver consigo, o Diabo recebeu uma revelação de seu espírito: "Vou construir uma igreja!". Agora, falando em voz alta para que seus súditos acompanhassem seu novo plano, o Diabo disse:
- Que sacada! Puta ideia fera! Travarei a batalha entre minha Bíblia Endiabrada e a Bíblia Sagrada, serei meu próprio profeta. A palavra de fato será a "Palavra do Diabo", já que falo por mim mesmo. Sem regras, dogmas, ritos e liturgias. Apenas marketing, propagandas, shows e confusão. E enquanto as outras religiões brigam entre si em busca de fiéis, a minha será única e abrangerá a todos. Há muitos modos de afirmar, mas só um de negar tudo.
Dito isto, o Diabo tomou o elevador e subiu até o andar celestial. Foi contar a novidade e desafiar o Ser Supremo. Enquanto ouvia a lira e as harpas que compunham a melodia que saia da caixinha de som do elevador, sua mente não parava de trabalhar:
- Tratarei logo de criar um mantra eletrônico e barulhento que repita bastante meus conceitos e valores sem sentido. Que foda.
Deus recebia um novo membro do Reino dos Céus no instante em que a porta metálica se abriu entre as nuvens, o sininho soou e o Diabo de braços abertos e um semblante cínico e assombrado, acompanhado de um sorriso maroto cheio de graça, disse:
- Fala Deus! Fala Deus!
- Que queres teimoso? respondeu o Todo Poderoso.
- O Senhor já ouviu falar de teu servo Jó? disse o Diabo dando leves risos.
- Brincadeira, brincadeira... era só para relembrar velhos tempos. continuou.
- Não vês que vossos gracejos e sarcasmos de nada