História (Super Interessante, março de 2002) Satã vive Requintado e com menos poderes, o diabo sobrevive às previsões de que ele não resistiria ao avanço da ciência e reacende no século XXl velhos dilemas da condição humana Jomar Morais Ninguém jamais recebeu tantos nomes. Nenhum ser excitou tanto a imaginação humana ao longo dos séculos. Num mundo dominado pela tecnologia, com educação e informação em larga escala, imaginou-se que não haveria mais lugar para ele. Engano. No alvorecer do terceiro milênio ei-lo aí, vivo e atuante, ainda que transformado e sem os superpoderes de outrora. Ele — Asmodeu, Belzebu, Azazel,, Belial, entre os muitos nomes com os quais os antigos hebreus o rotularam. Ou Iblis, como dizem os muçulmanos. Ou Arimã, como o chamavam os seguidores de Zoroastro, na Pérsia. Ou simplesmente, como bem o sabem os brasileiros temerosos de mencionar-lhe o nome, o Rabudo, o Tinhoso, o Beiçudo, o Pai da Mentira, o Cão. Amigo leitor, eis Satanás, o Demo, o Diabo, a mais intrigante das figuras que povoamo imaginário humano. O Diabo chega ao século XXI deitado sobre a fama arrecadada ao longo do tempo. É verdade que ele não aparece mais em murais com a aparência grotesca de um bode alado, coroado de enormes chifres, com rabo de dragão e olhos nas asas, na barriga e no traseiro. E que há muito seu nome foi retirado do Pai Nosso, a principal oração cristã. Também já não é acusado em toda parte de estar por trás das doenças, das hecatombes, das tragédias cotidianas. O Diabo teve que ceder aos progressos da ciência, à liberdade de pensamento e ao avanço da razão sobre a superstição. Mas é inegável que, mesmo reduzido à idéia original que o criou, ele continua influente em nossos dias, qualquerque seja a classe social, o nível cultural ou a nacionalidade das pessoas. Não é exagero dizer que, de certa forma, o velho e mau Satã tem sido revalorizado nos últimos tempos. Nos Estados Unidos, maior centro tecnológico do mundo, o número de