Acadêmica de Fisioterapia
M u l h e re s
Tradução de Reinaldo Moraes
www.lpm.com.br
L&PM POCKET
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E
u tinha cinquenta anos e há quatro não ia pra cama com nenhuma mulher. Não tinha amigas. Olhava pras mulheres nas ruas ou em qualquer lugar que as visse, mas olhava sem desejo e com uma impressão de futilidade. Me masturbava regularmente, mas a ideia de ter um relacionamento com uma mulher – mesmo em termos não sexuais – estava além da minha imaginação. Eu tinha uma filha ilegítima de seis anos. Vivia com a mãe, e eu pagava pensão pra criança. Anos antes, tinha me casado, aos 35. Durou dois anos e meio. Minha mulher pediu divórcio. Só estive apaixonado uma vez – ela morreu de alcoolismo agudo, aos 48, quando eu tinha 38. Já minha mulher era 12 anos mais jovem que eu. Deve estar morta também, não tenho certeza. Ela me escrevia uma longa carta todo Natal nos primeiros seis anos depois do divórcio. Nunca respondi...
Não lembro bem quando vi Lydia Vance pela primeira vez. Foi há cerca de seis anos, eu tinha acabado de largar um emprego de doze anos como funcionário dos Correios e esta va tentando virar escritor. Estava morrendo de medo e bebia mais do que nunca. Tentava escrever meu primeiro romance.
Bebia meio litro de uísque e uma dúzia de meias-cervejas, todas as noites, enquanto escrevia. Fumava charutos baratos e datilografava e bebia e escutava música clássica no rádio até de madrugada. Fixara uma meta de dez páginas por noite, mas nunca sabia, até a manhã seguinte, quantas páginas tinha escrito. Levantava de manhã, vomitava, ia até a sala e conferia no sofá quantas folhas tinha ali. Sempre passavam das minhas dez. Às vezes tinha 17, 18, 23, 25 páginas. Claro que o trabalho de cada noite tinha que ser desbastado ou tinha que ser jogado fora. Gastei 21 noites pra escrever meu primeiro romance.
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Os proprietários do condomínio em que eu morava viviam nos fundos e achavam que eu era maluco. Todas as manhãs, ao acordar,