Aborto
Estima-se hoje que sejam feitos em torno de 1 milhão de abortos clandestinos por ano no Brasil. É importante, no entanto, entender de antemão que clandestino é diferente de inseguro e essa diferença consiste do quanto a mulher dispõe em dinheiro para realizar o procedimento. Ou seja, quem pode, paga para ir em clínicas clandestinas, que oferecem condições de higiene e médicos competentes; já quem não tem capital para isso, apela para remédios e soluções caseiras. Segundo a Agência Pública, quem apela para a segunda opção tem 1000 vezes mais chances de vir a óbito do quem pode bancar o valor que as clínicas cobram.
Essa taxa de mortalidade é um número que assusta: a cada dois dias uma mulher morre no país por aborto inseguro. Em países da Europa onde o procedimento é legalizado, a taxa é muito menor, além de terem apresentado uma diminuição significativa no número de interrupções.
No Uruguai, o aborto foi descriminalizado em 2012 e apresentou uma mudança expressiva. Se antes da aprovação eram feitos 33 mil abortos anuais, depois da lei o número despencou para 4 mil. E a mudança não foi por acaso. O país investiu em políticas públicas, conscientização da população e investimentos nos métodos contraceptivos gratuitos. Porém, tudo isso somado ao conservadorismo e a tradicional sociedade patriarcal, trava a discussão sobre a descriminalização e coloca a mulher em posição passiva. O corpo é seu; os direitos sobre ele, não.