ABC da greve
“Cabeças levantadas, máquinas paradas, pois quem toca o trem prá frente também, de repente, pode o trem parar”. Assim entoava Chico Buarque em 1980 numa comovente homenagem aos trabalhadores do maior centro industrial da América Latina. Em 1979, ano que marca o começo da “abertura política” do regime controlado desde 1964 pelos militares, cento e cinquenta mil metalúrgicos, com Luís Inácio da Silva, o Lula, param durante 10 dias. Os trabalhadores reivindicam por 73% de aumento salárial, mas o processo se acelera com a intervenção do governo militar que prende os líderes sindicais e barra a entrada de metalúrgicos ao estádio de Vila Euclides, o único lugar capaz de acolher assembleias diárias que juntam de cinquenta a setenta mil trabalhadores. Depois de 45 dias de trégua os trabalhadores aceitam um aumento de 69%.
“ABC da greve” não mostra tudo, nem poderia. Leon Hirzsman era um cineasta talentoso, de um olhar atento e crítico. Só a urgência em perceber uma época de mudanças explicitas e o facto de ter interrompido a rodagem da sua obra-prima, “Eles não usam Black-tie”, para se lançar no furacão do ABC. O autor da ficção foi ao encontro da realidade que procurava retratar num enredo que conta os dilemas de uma família de trabalhadores envolvidos numa greve. Isso nos