301
DA DELEGACIA DA MULHER À LEI MARIA DA PENHA:
LUTAS FEMINISTAS E POLÍTICAS PÚBLICAS SOBRE
VIOLÊNCIA CONTRA MULHERES NO BRASIL
Março de 2008
Oficina nº 301
Cecília MacDowell Santos
Da Delegacia da Mulher à Lei Maria da Penha:
Lutas feministas e políticas públicas sobre violência contra mulheres no Brasil
Oficina do CES n.º 301
Março de 2008
OFICINA DO CES
Publicação seriada do
Centro de Estudos Sociais
Praça D. Dinis
Colégio de S. Jerónimo, Coimbra
Correspondência:
Apartado 3087
3001-401 COIMBRA
Cecília MacDowell Santos
Centro de Estudos Sociais, Universidade de Coimbra
Universidade de São Francisco (Califórnia, EUA)
Da Delegacia da Mulher à Lei Maria da Penha:
Lutas feministas e políticas públicas sobre violência contra mulheres no Brasil1
Resumo: Este artigo examina a relação entre as lutas feministas de combate à violência contra mulheres no Brasil e as políticas públicas sobre esta temática desde meados dos anos 1980. Ao longo das duas últimas décadas, são identificados três momentos de mudanças institucionais que direta ou indiretamente moldam e refletem os contextos das políticas públicas: o momento da criação da primeira delegacia da mulher, em 1985; o do surgimento dos Juizados Especiais
Criminais, em 1995; e o da promulgação da Lei 11.340, em 2006, conhecida como Lei “Maria da Penha”. Estes três momentos, que não são estanques e que resultam da convergência de múltiplas práticas políticas e sociais, sinalizam processos de ondas, quebras e ritmos dos fluxos e refluxos das políticas públicas. A análise destes processos revela diferentes modalidades e graus de absorção/tradução e silenciamento das demandas feministas ou de aspectos destas, indicando quais os discursos feministas sobre violência que ganham hegemonia no âmbito das instituições jurídico-políticas.
Introdução
Este artigo apresenta uma reflexão sobre a relação entre as lutas feministas de combate à violência contra mulheres no Brasil, com ênfase na experiência