20 anos do plano real
No auge da hiperinflação, no início da década de 90, Ricardo José Alves, fundador da rede de fast food Griletto, era dono de um açougue. Todas as tardes, religiosamente, ele e sua equipe recolhiam todo o dinheiro do caixa e levavam ao banco antes que as agências fechassem. O objetivo era aplicar e garantir o rendimento do overnight. Na época, com a inflação mensal chegando a 80%, Alves, assim como a maioria dos empresários, se viu obrigado a ter aplicações financeiras para garantir o seu lucro. “Nós vendíamos os produtos a preço de custo e aplicávamos o dinheiro. O overnight era a ferramenta de trabalho. Era até mais que o cliente. Era a aplicação que fazia o resultado do negócio”.
A corrida diária aos bancos deixou de ser rotina após 1994, quando a estabilidade econômica, trazida pelo Plano Real, pôs fim ao lucro via aplicações bancárias e exigiu que as empresas garantissem o resultado com a produtividade do negócio e não no mercado financeiro.
A adaptação não foi da noite para o dia. Os consumidores, as empresas e até os governos levaram um tempo para se acostumar e confiar na nova realidade. "Naquela época eu estava condicionado a viver do lucro financeiro. Não pensava em como ganhar dinheiro vendendo o meu produto. Hoje, a preocupação é com o cliente e com alternativas de vendas", diz Alves.
No dia que antecedeu a chegada do real, não foram poucos os casos de aumentos de preços. Segundo o Procon, entre o anoitecer do dia 30 de junho e o clarear do dia 1º de julho, a alta dos preços chegou a 68,29%.
Só o pão francês registrou um aumento de 15% em São Paulo. O medo de mais um congelamento de preço fez com que os supermercados remarcassem seus preços de forma abusiva, ao ponto de o presidente
Itamar Franco ameaçar os estabelecimentos com multas e até interdição. Já os governos estaduais e municipais aproveitaram a difícil operação aritmética da conversão de preços para dar um empurrãozinho na inflação. Algumas cidades amanheceram com as