1903
José Paulo Paes
Maria Izabel Brunacci
Doutoranda em Literatura Brasileira / UnB
Como abordar dois poetas tão diferentes em um só trabalho? De início, a sensação de que Manoel de Barros e José Paulo Paes nada têm a ver um com o outro. Nem poeticamente, nem biograficamente. Um é pantaneiro, observador das coisas insignificantes do mundo – aquelas que a gente se acostumou a não ver. O outro é urbano, cosmopolita, cerebral. Apresentados assim, impossível saber se, em algum ponto de suas obras poéticas os dois possuem algo em comum. Como a análise literária não se faz apenas pelas sensações iniciais do leitor, examinaremos a poesia desses dois autores para tentar identificar as diferenças e similaridades de seu procedimento discursivo, uma vez que se trata de autores contemporâneos, que compartilham os resultados das transformações da poesia moderna.
Trabalha-se neste estudo com o aporte teórico desenvolvido a partir de Hugo Friedrich e Gianni Vattimo, que, fundamentalmente, focalizam a poesia da modernidade como problema: manifestação discursiva que se dobra sobre si mesma, questiona-se e reflete sobre sua constituição enquanto discurso autônomo.
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Estudos de Literatura Brasileira Contemporânea
Nosso estudo incide sobre a poesia publicada a partir da década de 70, como amostragem da variedade semântica e estrutural da lírica brasileira dos últimos 30 anos do século XX. O recorte que nos fornece o corpus para análise contempla poemas selecionados dos livros
Calendário perplexo, A poesia está morta mas juro que não fui eu,
Prosas seguidas de odes mínimas e A meu esmo, de José Paulo Paes e a obra Matéria de poesia, de Manoel de Barros. O critério para escolha desses dois poetas e não de outros da vasta lavra daquele período deriva do reconhecimento inicial de sua disparidade, a uma primeira leitura, seguido da intuição de que é precisamente nessa disparidade que se deve buscar o que ambos apresentam de moderno