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III ÉTICA
Por falar em pizza
Claudio de Moura Castro
VEJA, Sábado, Setembro 24, 2005
"Como vamos fazer uma operação 'mãos limpas' se as mãos da classe média estão sujas? Se tivermos uma operação mãos limpas, as nossas elites deverão ser as primeiras a entrar na faxina".
Estava sozinho na minha mesa da pizzaria. Inevitavelmente, bisbilhotava as conversas da família na mesa ao lado. Estavam indignados com o mensalão e outras manifestações de corrupção e desonestidade da nossa classe política.
A conversa mudou. O médico e professor narrava um episódio em que discutira com um amigo ou parente acerca de um atestado médico para justificar faltas ao trabalho. Deu um por três dias, mas a pessoa queria para a semana toda. O atestado afirmava que o paciente tinha um caso de conjuntivite. Para dar mais credibilidade, receitou também um colírio, mas advertiu que não era para usar, já que não tinha nada no olho. A conversa saltou da indignação, diante das estripulias do PT, para o riso, no caso do atestado. Não parece haver ocorrido a nenhum dos presentes que tanto o escândalo do mensalão quanto o atestado falso são casos claros de roubo. Quem recebe o atestado está roubando dinheiro da empresa, e quem o dá é cúmplice do roubo. Não é menos que isso, não é menos roubo. Não é o roubo in extremis, para sobrevivência, o único perdoável. Ali eram todos de classe média.
A cola é roubo de conhecimento, para passar sem saber, isto é, enganar o sistema de controle de qualidade da escola. Quem cola está fraudando a meritocracia da escola, em que a nota é a recompensa pelo esforço de estudar e aprender.
Professor que não dá aula na hora em que deveria dar está roubando tempo do Estado e do aluno, pois tempo é o que compra o seu salário. Professor de tempo integral na universidade pública que não cumpre seu horário de permanência está roubando dinheiro (= tempo) do erário público. O que faz esse mesmo professor