1409 FiloTecno 2015 1 18
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Propriedade Intelectual: tensões entre a lógica do capital e os interesses sociaisGilberto Dupas1
A questão da proteção à Propriedade Intelectual (PI), vista por meio da implementação de um rígido controle na utilização de marcas e patentes, é um dos pilares sobre o qual repousa o modelo de acumulação da economia global. A PI fundamenta-se na ideia de que a inovação é elemento essencial do modelo schumpteriano de “destruição criativa”, motor da dinâmica capitalista; cumpre a ela garantir monopólios mais longos possíveis sobre novas tecnologias, produtos e processos, de modo a estimular o investimento inovador. No entanto, esse instrumento de “proteção ao inventor” tem sido questionado de várias maneiras desde a Revolução Industrial.
Durante os cerca de sessenta anos do século passado em que o comunismo apareceu como uma eventual alternativa de regime econômico, por meio da “socialização” dos meios de produção pelo controle do Estado, a PI aparecia a ele unicamente como uma arma do capitalismo para o controle privado do conhecimento; e eram tranquilas as justificativas ideológicas, em países que não aceitavam o conceito de propriedade privada, para copiar intensamente produtos “ocidentais” em nome de valores sociais. De alguma forma, o amplo grau de leniência com que opera a China atual na área de cópias e “pirataria” é uma “herança cultural” dos tempos de regime comunista, agora usada para alavancar a participação do país como sócio do capitalismo global. Mas esse hábito também foi frequente no Japão do pós-guerra, cujo pujante setor industrial foi fortemente baseado na cópia de produtos ocidentais. Os grandes países da periferia, no entanto, sempre tiveram mais dificuldades em utilizar cópias para dinamizar sua economia e, mais recentemente, procurar sua inserção competitiva na economia global.
Uma das razões, para além do controle mais rigoroso da PI, é que a cópia eficiente também exige uma competência tecnológica