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A Gramática de valências
Em Lingüística, o estudo sintático tem-se assentado em dois princípios de análise: a constituência e a dependência. A constituência – ou análise em constituintes imediatos (IC) – repousa na idéia de que a frase se estrutura hierarquicamente mediante categorias sintáticas (N, SN, V, SV, etc.). A dependência, a seu turno, assenta na idéia de que as unidades frasais são interdependentes. A relação de dependência pode ser encarada como uma relação de (co)ocorrência, de modo que uma unidade dependerá de outra, se a possibilidade de ela ocorrer exigir a presença da outra.
A gramática de dependências toma o verbo como elemento central da estrutura da frase – elemento do qual dependem todos os demais. A gramática de
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valências é, pois, um desdobramento da gramática de dependências.
A gramática de valências considera, portanto, o verbo como o elemento central da frase e trata a relação entre esse centro e os demais elementos dependentes sob dois pontos de vista: um sintático e outro semântico.
3.1
O conceito de valência
Em seu livro Gramática de valências (1986), Busse e Vilela dão-nos a saber a definição de valência:
“Chamamos valência ao número de lugares vazios previstos e implicados pelo
(significado do) lexema. São precisamente os verbos que apresentam de modo mais evidente estruturas relacionais do tipo valencial”.
(grifo no original)
Urge ter em conta o que os autores entendem por “lugares vazios”. Um lugar vazio ou argumento, segundo os autores, é “(...) o termo contido na estrutura de outro termo”. Assim, o verbo dar, por exemplo, prevê três lugares vazios: o primeiro corresponde ao “dador” (sujeito); o segundo, ao “dado” (objeto direto); o terceiro, ao “recebedor” (objeto indireto). Vale dizer que os tradicionalmente chamados “complementos” do verbo, entre os quais se inclui o sujeito na teoria de valências, são considerados variáveis do verbo, a saber, constituem lugares vazios
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