1. CECÍLIA: UMA VIAGEM ENTRE O EFÊMERO E O ETERNO
Cecília Meireles estreia na literatura em 1919 e, a partir de então, o verso torna-se uma obrigação cotidiana, resultando na criação de grandes obras, inclusive a do livro Viagem que assegurou o seu lugar na Academia Brasileira de Letras e foi consagrada como uma das poetas mais notáveis do modernismo brasileiro. Cassiano Ricardo afirma acerca desse livro que:
De modo geral, o que se observa nas composições de Viagem é uma riqueza enorme de vida interior. Nítida compreensão humana das coisas. Surpresa de observação, quando ela recorta um trecho de paisagem com seu espírito agudo e lhe dá umas tintas frescas e puras de sentimento. O livro espelha o instante dramático do mundo que estamos vivendo. É todo ele feito de uma grande inquietação quase subterrânea. Inquietação que é um grito surdo e silencioso posto em rimas também surdas e silenciosas. 1
Nessa obra Cecília Meireles reflete sobre a dor e a angústia presentes na vida do ser humano.
Para entender a tensão que Cecília Meireles criou entre o eterno e o efêmero, é necessário compreender o caráter autobiográfico que envolve sua obra. Sua consciência de transitoriedade da vida tem certa ligação com a convivência com a morte. Cecília perdeu o pai três meses antes de seu nascimento e sua mãe faleceu três meses após o seu nascimento, sendo criada pela avó. A escritora não pôde conhecer o carinho dos pais. Mais tarde morre Fernando Correa, seu esposo e pai de suas três filhas, em decorrência de um suicídio. Assim, Cecília faz do tempo o seu personagem principal, mostrando que a vida é fugaz e a morte nada mais é do que uma presença no horizonte. Conforme a própria poeta, em uma de suas tantas entrevistas, indicou:
Essas e outras mortes ocorridas na família acarretaram muitos contratempos materiais mas, ao mesmo tempo, me deram, desde pequenina, uma tal intimidade com a Morte que docemente aprendi essas relações entre o Efêmero e o Eterno que, para