Fragmentos e pessoa e a vida em demência

demência de alguém... Ele pode assustar, mas, quanto a mim, fico feliz de constatar que o ponto de demência de alguém é a fonte de seu charme.” (DELEUZE, 2005). 8 INTRODUÇÃO Pensando a partir da obra de Roy Wagner (WAGNER, 2010), o antropólogo é um análogo do xamã em sua cultura, mediando assim as suas criatividades com as dos outros, seus interlocutores. Por esse duplo vínculo de ida e vinda no trabalho de campo durante a graduação (VIANNA, 2010) acabei por imergir em uma dimensão relacional casual com uma pessoa em processo demencial. E essas experiências pessoais, relatadas aqui, não são qualquer dispositivo de validação, através da etnografia, de uma perspectiva ou de minhas interpretações pessoais, mas sim um pequeno espaço-tempo em individuação onde essa dissertação foi gerada. Enquanto realizava pesquisa de campo com um grupo de senhores remadores do Clube de Regatas Guaíba - Porto Alegre, deparei-me, entre eles, com um doente de Alzheimer. A ironia dessa situação foi a de que justamente o principal conceito que estava utilizando no Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) era o de “memória coletiva”, baseado na obra de Maurice Halbwachs (HALBWACHS, 1990). Enquanto todos rememoravam suas histórias de vida em comum e conversavam sobre suas experiências de vidaatuais e passadas, esse senhor segurava sua prancheta amarrada em seu pescoço durante todas as tardes no Clube. Nesse grupo, no qual fiz minha etnografia, havia um tabu em torno da…